O tema deste artigo pode ser provocador. Digo isto porque poderia muito bem posicionar uma discussão do tipo “a influência dos jogos do peão, das escondidas, da macaca ou dos patins, no crescimento das nossas crianças”.
As crianças dos nossos dias nasceram ladeadas de tecnologia e, mesmo antes de serem alfabetizadas, aprendem a utilizar os equipamentos electrónicos disponíveis, muitas vezes de forma desconexa, aleatória e quase sempre sem valioso propósito.
Certo é que a utilização de tablets, computadores, smartphones, consolas de jogos e muito brevemente de instrumentos de realidade virtual, influencia directamente a maturação cognitiva, motora, afectiva e social das crianças.
Raciocínio pouco dotado, não sabem correr, têm pouca motricidade fina, dão poucos abraços, e não dizem “bom dia”. - Serei agora ainda mais provocador, aludindo a infância de hoje?
O desafio não se coloca às crianças. A responsabilidade pertence aos adultos, na forma como se vão posicionar perante uma realidade adquirida. Divertimento? Entretenimento? Aprendizagem? Conhecimento? Controlo parental?
A escolaridade paterna não tem o mesmo impacto favorável de há alguns anos, e, ainda mais, quando não possuem suficiente literacia digital. Mas, ensinar os afetos, fomentar a atividade física, contar histórias com história e fazer sentir às crianças a nossa frequente presença, pode ser a nossa principal arma para o equilíbrio que o crescimento infantil necessita.
Afinal qual a influência da tecnologia no desenvolvimento físico, mental e social da criança?
A tecnologia é hoje um meio de manutenção das relações sociais. Permite acesso facilitado à mais diversa informação e entretenimento. É cada vez mais comum vermos uma criança a escrever “jogos da barbie” ou “Cristiano”, no computador do pai, assim como falar “youtube” ao microfone do smartphone para pesquisar no google, em vez de praticar a sua caligrafia num caderno de linhas.
Os adultos devem pois impedir o uso exagerado da tecnologia de forma a não permitir que as crianças se desconetem do mundo real, não praticando as experiencias sensoriais baseadas no tato, paladar, olfacto e outras.
Sem este controlo, vão-se habituando à automação gerada pela tecnologia, arriscando um sedentarismo e um deficiente desenvolvimento físico, uma menor propensão para o exercício da criatividade e uma utilização do “escudo virtual” para uma convivência social apenas no digital.
As crianças que utilizam excessivamente as tecnologias, desde internet, tv, consolas de jogos e outras, impõem a si, mesmo que de forma insciente, um esquecimento das actividades tradicionais, como prática de jogos e actividades físicas, e não conseguem autonomamente diferenciar os momentos de lazer e estudo.
Enquanto o ritmo de competição nos anos oitenta era ser melhor nas actividades físicas, na escrita ou na leitura, hoje as crianças lutam com a ansiedade de ter a melhor tecnologia que lhes permita estar na linha da frente das novidades tecnológicas.
Um dos grandes problemas no panorama escolar prende-se com a incapacidade das escolas em proporcionar aos alunos actividades qualitativas que estimulem a actividade física, criativa e afectiva (em complemento aos deveres parentais e da família).
Não se trata de tecnologia; trata-se de partilhar conhecimento e informação, comunicar eficientemente, construir comunidades de aprendizagem e criar uma cultura de profissionalismo nas escolas. Estas são as principais responsabilidades de todos os líderes educacionais
Marion Ginapolis
A utilização das Tecnologias tem, naturalmente, vantagens na “aprendizagem”.
O vocabulário das crianças de hoje é muito mais rico que o das crianças da geração anterior, a atenção aos ensinamentos da professora que usa o videoprojector interactivo é reforçada, e a informação é retida e lembrada de forma mais eficaz.
As experiencias vividas observando imagens e vídeos, assim como as exposições a interacções digitais, permitem também um maior armazenamento de sentimentos, vivencias e aprendizagens.
As novas tecnologias ajudam as crianças no contexto escolar e estimulam a procura destes recursos para a contínua melhoria do saber. São o melhor sistema de transmissão de conhecimento.
Quando a tecnologia é utilizada de forma correta torna-se um aliado imprescindível na descoberta do mundo, trazendo benefícios a curto e longo prazo no processo de aprendizagem.
A tecnologia é apenas uma ferramenta. Para fazer com que as crianças trabalhem juntas e se motivem, o professor é o mais importante
Bill Gates
A sua utilização deve ser moderada e definida em horários estabelecidos como adequados à idade das crianças, numa pré “negociação” entre filhos e pais, de forma que aqueles entendam que as “regras” são estipuladas para o seu bem, e que os limites impostos servem para evitar ansiedades e descontrolos, assim como défices nos estímulos físicos, emocionais e sociais.
Devemos também envolver as crianças nesta gestão de controlo daquilo que é lazer e aprendizagem na utilização das tecnologias. Esta co-responsabilização irá fortalecer o seu estatuto de criança autónoma e responsável, que lhe permitirá um crescimento mais eficaz.
A Educação está a evoluir devido ao impacto das tecnologias digitais. Já não ensinamos e educamos as crianças da mesma forma. A adaptação é necessária e exige a todos os intervenientes, filhos, pais e professores, uma “mudança curricular”.